terça-feira, 6 de março de 2012

A terapia em alto-mar

VILFREDO SCHÜRMANN Economista, palestrante e capitão do veleiro Aysso da família Schürmann, que deu a volta ao mundo duas vezes, de 1984 a 1994 e de 1997 a 2000 (Foto: divulgação)
Fui convidado para ser paraninfo de três cursos na Universidade do Sul de Santa Catarina: naturologia aplicada, pedagogia e psicologia. Decidi fazer uma analogia com minhas experiências navegando pelo mundo. No mar, aprendemos que as dificuldades e os desafios são importantes para nosso crescimento. Nas longas navegações, temos de acreditar uns nos outros, de aceitar uns aos outros e de entender que cada um tem um papel importante para levar a embarcação a um porto seguro.
Certa vez, na Ilha de Raiatea da Polinésia Francesa, Wilhelm, nosso filho, então com 10 anos, sofreu uma lesão na palma da mão quando fazia windsurfe. Levamos ele ao hospital, e os médicos fizeram uma pequena cirurgia. Na semana seguinte, a dor voltou. Era uma infecção. Uma mulher nativa perguntou se poderia tratar da lesão. Preparou uma pasta com sabão de coco natural e açúcar mascavo e passou na ferida. Duas semanas depois, a mão estava cicatrizada. Essas práticas naturais promovem o bem-estar e a qualidade de vida de forma integral, gerando harmonia e equilíbrio com o meio em que vivemos. É a naturologia aplicada.
Lembro outras lições do mar. Quando saímos de Florianópolis, em 1984, em nossa primeira volta ao mundo, a maior preocupação foi com a educação dos filhos. Minha mulher, Heloisa, professora e pedagoga, tinha experiência. Eu não. Durante quatro meses, aos fins de semana eu ia à escola dos meninos para aprender a arte de ensinar. Nesse aprendizado, entendi a importância da pedagogia: transmitir informações e transformá-las em conhecimento. Só ficamos aliviados quando chegamos à Nova Zelândia, e os meninos fizeram os testes de avaliação num colégio. O desempenho foi tão bom que eles adiantaram dois anos no currículo escolar.
Sabíamos que, ao colocar nossos filhos de 7, 10 e 15 anos no barco, o maior desafio não seriam as tempestades. Era conviver durante vários dias sem ver nenhum pedaço de terra num espaço de 44 metros quadrados. Navegar envolvia se relacionar com tripulantes que, mesmo não sendo da família, tornaram-se pessoas especiais. Gente de cinco diferentes nacionalidades, cada uma com suas manias. Sem saber, estávamos aplicando a psicologia: a maneira de tratar as pessoas e entender a mente humana.
Essas e outras experiências, vividas nas viagens pelos mares do mundo e em terra com diferentes culturas, nos deram uma ideia da missão dos profissionais de naturologia aplicada, pedagogia e psicologia. No final, como enfatizei na formatura daquela turma em Santa Catarina, o importante é acreditar. Viver intensamente cada momento, de uma maneira simples, sem complicar. Comprometer-se em sempre fazer o melhor. E amar seu ofício com todo o coração.


http://revistaepoca.globo.com/Vida-util/vilfredo-schurmann/noticia/2012/02/terapia-em-alto-mar.html